A perspectiva da integração de alunos surdos em turmas ditas "normais" é algo que me preocupa pelo facto do nosso sistema educativo não facultar a esses mesmos alunos algo tão importante como um tradutor e a grande maioria de nós, professores, não dominar a língua gestual. Fala-se muito em escola inclusiva, mas na realidade não passa, na maioria dos casos, de meras palavras...
Senti que deveria conhecer um pouco mais o mundo de alguém que faz dos gestos e expressões o seu meio de comunicação, a sua língua. Foi um dos projectos que estabeleci para mim este ano.
Do pensamento aos actos...agora já sou uma aluna do curso de língua gestual...
Apesar de estar no início, tem sido uma experiência fantástica...somos como bébés a aprender a andar...
Algo que aprendi e que não mais o esquecerei foi o seguinte: as pessoas podem ser surdas, mas não mudas, pois falam, mesmo que seja através dos gestos. Assim, deixarei para trás a expressão "surdos-mudos"...
Deixo-vos com o seguinte:
"As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar.
Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas de mãos.
E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:nas tuas mãos começa a liberdade."
de Manuel Alegre,
O Canto e as Armas, 1967